segunda-feira, 25 de abril de 2011

SE: Vítima de cárcere privado teme assassinato

Ainda sob os efeitos da tortura a que foi submetida por mais de 30h em cárcere privado, a vendedora Cristielane Caetano Mota Santos, 21, acredita que o ex-marido José Elígio Tavares não desistirá de um plano para matá-la. Nesta manhã, Cristielane recepcionou jornalistas na residência da família, oportunidade em que revelou seus sonhos e também o medo que cultiva do ex-marido. “Não confio mais nele. Ele pode ser colocado em liberdade, falar em arrependimento, falar que vai viver a vida dele, mas eu não acredito. É só jogo para conseguir acabar com o serviço, para vir atrás do seu ideal: me matar”, declarou Cristielane, que pediu para não ser fotografada.Cristielane não tem dúvida que, assim como ela, a família dela também corre riscos e não vê outra alternativa senão a mudança de endereço: sair de Aracaju para dar prosseguimento à vida em outra cidade, em outro Estado. Além de se distanciar do ex-marido, Cristielane cultiva um outro sonho: estudar, estudar, estudar. Neste sentido, ela já começou a se preparar para enfrentar, no segundo semestre, o vestibular para o Curso de Jornalismo. “Quero ser jornalista porque é um sonho que tenho desde cedo”, justificou.
Local do cativeiro momento das negociações (Foto: Cássia Santana)
Do episódio, Cristielane também reserva um aprendizado. “Aprendi a valorizar a família, a ouvir mais os conselhos dos meus pais e ser uma boa filha”, comentou a vendedora. Ao filho, com cinco anos, Cristielane pretende contar a verdade, mas quer poupá-lo neste momento em função da idade dele. “Deixe ele envelhecer, que contarei tudo”, diz. O garoto perguntou pelo pai, mas Cristielane desviou a atenção informando que Elígio estaria viajando “a trabalho”.
Fuga e tensão
A vendedora ainda convive com o pesadelo, não consegue dormir com tranquilidade, chora ao entardecer por ser o período que ela mais sofria no cativeiro e revela que, em alguns momentos, a Polícia atrapalhou nas negociações para libertá-la do cárcere privado. Cristielane tem dificuldades de locomoção e ainda se recupera do ferimento na perna, fruto do tiro disparado por Elígio no cativeiro.Cristielane confessa que, em alguns momentos, pensou em reagir, mas desistia do plano por ter convicção de que não teria sucesso por estar debilitada. Na noite do dia 18, ela percebeu que Elígio deu cochilos e, no momento, ela até pensou em pegar a arma, atirar nele, ou mesmo pegar algum porrete para acertá-lo, mas logo desistia. “Para fazer alguma coisa, eu tinha que ter estratégia e eu não tinha porque estava muito fraca”, confessou. “Sempre que eu me movimentava na cama, com cuidado, ele despertava e logo perguntava: ‘já vai fugir é?’ Então, eu não sei se ele cochilava ou fingia que estava dormindo”, comentou.Para Cristielane, ao colocar várias pessoas para exercer papel de negociador, a Polícia acabou atrapalhando no processo. Na sua ótica, o sucesso teria sido maior se a Polícia mantivesse apenas a psicóloga Juliana Passos e o Policial Militar Marcos Carvalho à frente das negociações. “Até porque a participação dos outros, não surtiu nenhum efeito”, considerou.Segundo observou, a maior tensão ocorreu ainda na manhã do primeiro dia (na segunda, 18), quando o helicóptero da Secretaria de Estado da Segurança Pública percorreu o local do cativeiro. Ao perceber o helicóptero sobrevoando a casa, José Elígio teria, conforme revelou, ficado mais nervoso e passou a ter noção da dimensão do problema que gerou ao sequestrá-la e mantê-la em cárcere privado. “Ser preso era o que ele não queria”, informou.Cristielane revelou que entrou no jogo da psicóloga, tentado sensibilizar o ex-marido falando em reconciliação e perdão, mas em nenhum momento pensou em reatar o casamento, mesmo agora depois de libertada do cárcere privado. No cativeiro, Cristielane foi privada até de ir ao banheiro. No quarto, Elígio colocou um balde para que ela utilizasse para satisfazer as necessidades fisiológicas. Ocorreu momento que ela perdeu a esperança no final feliz, mas percebeu que não seria morta depois da maior ameaça de Elígio, que a mantinha amarrada e na mira do revólver.
“Ele chegou a telefonar para minha mãe, dizia que ia me matar e mirou o revólver na minha cabeça dizendo que teria chegado a hora”, lembra. Naquele momento, Cristielane colocou a mão nos ouvidos, gritou, chamou o policial militar Marcos Carvalho e acabou se acalmando quando ele desistiu de atirar. “Pensei que iria morrer naquele momento, mas, como não aconteceu, comecei a acreditar que ele não me mataria mais”, disse.Para Cristielane, a ação do ex-marido foi toda premeditada. Até o presente da páscoa para o filho foi antecipado. “Ele costumava dar o ovo de páscoa com um dia de antecedência, mas neste ano ele deu muito antes, tudo premeditado para me matar”, revela. “E até passou a dar uma atenção especial a nosso filho, coisa que ele não fazia antes”, disse.Cristielane confessou que Elígio teve a intenção de substituí-la pelo pai e que ela, em nenhum momento, aceitou a negociação. “Seria a maneira dele mostrar para meu pai o que ele era capaz de fazer, que ele era capaz de tudo”, comenta.Ela revelou que a relação matrimonial começou a ruir no mês de outubro e que tentou dar continuidade pensando nos laços familiares e, especialmente, no filho. Reconhece que prestou queixa e que desistiu de prosseguir com o processo judicial contra o ex-marido, mas queixa-se da Polícia por não ter tomado iniciativas mais enérgicas quando ela revelou que ele teria começado a andar armado.

Por Cássia Santana

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